Em todos os “dias do Senhor”, o povo de Deus se reúne para o culto comunitário em muitos e nos mais variados lugares. No entanto, independentemente da localização na terra, quando engajados no culto corporativo, os crentes estão unidos a Deus no céu (Hb 12.22).
Os antigos pais da igreja expressaram a realidade da participação dos crentes na adoração celestial através da Sursum Corda (“Elevai os vossos corações”). Este rito simples inclui a convocação: “Elevai os vossos corações” e a resposta da fé: “Elevamos os nossos corações ao Senhor”. A Sursum Corda é uma afirmação litúrgica de que Deus, pela sua Palavra e Espírito, eleva os corações dos crentes à sua presença celestial.
João Calvino escreveu aprovadoramente esse rito, que ele modificou para uma forma de monólogo: “Elevemos nossos corações e mentes ao alto, onde está Jesus Cristo, na glória de seu Pai, e de onde esperamos por ele para a nossa redenção”. No entanto, Calvino ressaltou que não ganhamos a presença divina celestial pela transformação dos elementos da comunhão, nem pela redução da natureza humana de Jesus a nós.
Calvino observou em seu comentário sobre João que “Deus desce à terra para nos elevar ao céu”. Cristo se identificou e habitou conosco para que compartilhássemos das bênçãos que ele recebeu de seu Pai. Deus “e juntamente com ele, [Cristo] nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6). O Catecismo de Heidelberg, na pergunta 49 oferece instruções claras e reconfortantes quanto aos benefícios que possuímos em nosso Cristo ascendido: “Primeiro, ele é o nosso advogado no céu diante do Pai. Segundo, temos nossa carne no céu como a garantia segura de que ele o nosso cabeça, também nos levará para si, como membros seus. Terceiro, Ele nos enviou o seu Espírito como penhor”.
O culto cristão é baseado na união e presença dos crentes com Cristo, que é o elo entre o Pai e nós, entre o céu e a terra. Em Cristo, nossa escada de Jacó, Deus habita conosco (Jo 1.14), comunga conosco (v. 51) e nos introduz em sua presença. Em Cristo, cujo sangue “fala coisas superiores ao que fala o próprio Abel” (Hb 12.24), nosso sacrifício de adoração é aceito pelo Pai.
Jesus é o verdadeiro adorador cuja vida inteira foi uma oferta de adoração ao Pai. Nós nos aproximamos de Deus baseados unicamente na oferta perfeita de Jesus que se ofereceu a si mesmo. “Jesus, como precursos, entrou por nós” (Hb 6.19-20), constituindo todos os crentes em seu sacerdócio (1Pe 2.5). Ao adorar o Pai, Jesus identifica-se com os crentes (Hb 2.9-15), por quem ele intercede (Hb 7.24-25), aos quais atrai para a adoração e os conduz a cantar louvores ao Pai (2:11-12), aos quais ele declara o nome de Deus (Sl 22.22), e aos quais ele dá confiança para se aproximar do trono de Deus (Hb 4. 14-16).
Alguém pode perguntar: Os benefícios alcançados na adoração da nova aliança também foram desfrutados na antiga aliança? O livro de Hebreus lança luz sobre isso. Ambas as descontinuidades e continuidades existem entre as alianças. O autor de Hebreus conecta o Monte Sinai com o antigo pacto e o Monte Sião com o novo pacto. O Monte Sinai era um lugar de adoração temporário, abordado com medo (Hb 12.18-21). A antiga aliança acabou se tornando obsoleta (Jr 31.31-34; Hb 8.13). O tabernáculo e sua arquitetura, mobiliário, sistema sacerdotal e sacrifícios eram sombras das coisas celestiais (Hb 8.5; 9.23-24). O Monte Sião representa uma aliança melhor, fundamentada em promessas melhores e permanentes, promulgada pelo ministério mais excelente de Cristo (Hb 8. 6). Pela fé em Cristo, todos os crentes entram na Jerusalém celestial e compartilham todas as suas bênçãos. Não há distinção dentro do sacerdócio dos crentes. Os adoradores não precisam mais ir a um lugar específico para adorar a Deus (João 4.21–24).
Continuidade também existe entre os dois pactos. Cristo cumpre todas as formas e cerimônias de adoração do Antigo Testamento. Todos são salvos em Cristo (Gl 3.26). Os crentes da antiga aliança eram membros da verdadeira igreja, participantes da nuvem de testemunhas que também corriam a carreira com Jesus, nosso precursor. Em ambos os pactos, Deus prometeu a sua presença com os fiéis (Levítico 26.12). Em ambas as alianças, Deus ordenou aos adoradores que se aproximassem dele com gratidão e reverência (Hb 12.21, 28–29). Ambas as alianças proclamam severas advertências e oferecem gloriosas promessas. Nós não podemos recusar a Deus. Precisamos oferecer adoração aceitável (Hb 12.25–29).
Nossa união e identificação com Cristo na adoração celestial nos proporciona tremendo conforto, encorajamento e instrução. Primeiro, nossa morada celestial com Cristo nos encoraja a “buscarmos as coisas do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus, e não as que são da terra”. (Catecismo de Heidelberg, pergunta 49). Nós não somos deste mundo, mas cidadãos do céu (Ef 2.19; Hb 11.13-16), já ressuscitados e assentados com Cristo (Ef 2.6). Portanto, vamos “colocar [nossos] corações nas coisas do alto” (Cl 3.2) no culto coletivo e em toda a nossa vida. Dentro e fora da adoração coletiva, devemos apresentar “nossos corpos como sacrifício vivo” (Rm 12.1), como “sacrifício de louvor” (Hb 13.15).
Em segundo lugar, a profundidade da adoração celestial nos motiva a priorizar nossa participação no culto corporativo, “não deixando de nos congregar” (Hb 10.25). Reunidos, o culto corporativo é imperativo para o crescimento saudável da graça e do conhecimento de Cristo. Reunidos, o culto corporativo é um meio necessário para encorajar uns aos outros à medida que “estimulamos uns aos outros ao amor e às boas obras” (Hb 10. 24). Terceiro, nossa posição sacerdotal na adoração celestial da nova aliança nos lembra que fomos redimidos para proclamar as virtudes de Deus, agora e para sempre (1Pe 2.4–5, 9–10). A adoração comunitária é uma antevisão do céu. Em adoração podemos cantar: “Além da minha mais alta alegria, eu prezo seus caminhos celestiais, sua doce comunhão, votos solenes, seus hinos de amor e louvor” (Timothy Dwight).
Tradução: Paulo Reiss Junior.
Revisão: Filipe Castelo Branco.
Fonte: New Covenant Worship: Lift Up Your Hearts.