É comum os mais desavisados com a liturgia reformada reclamarem de certa repetição nos elementos de culto da tradição reformada. Isso acontece porque espera-se duas coisas, que não são centrais no culto reformado, inovações criativas e voluntarismo. Não me entenda mal, o culto reformado não está pautado simplesmente na manutenção da tradição ou de uma repetição forçada, há espaço para o contemporâneo, assim, como deseja-se que aquilo que é feito realmente venha do coração.
Ocorre que a centralidade do culto contemporâneo nas inovações criativas e no voluntarismo está associada ao compromisso com a autonomia e o racionalismo moderno, como se tudo que fosse feito no culto partisse primeiro do homem que presta este culto a Deus e então fosse recebido por Deus. Mas o processo é exatamente inverso. O culto tem muito mais a ver com o desejo de Deus do que o meu desejo ou a minha vontade. Neste aspecto o hábito de louvor a Deus suplanta o desejo de autonomia.
A liturgia reformada nos faz agir, mesmo quando não estamos totalmente cônscios, em submissão a Deus e sua palavra. Quando sentados ouvimos a leitura das Escrituras, uma mensagem está sendo dita: Deus está em nosso meio e ele FALA. Quando nos levantamos para cantar ao Senhor, outra mensagem é dita neste hábito: Deus nos OUVE. Esses dois exemplos mostram bem que há muito mais em nosso costume do que às vezes notamos. Você também não nota que está respirando para poder respirar, isso porque este hábito essencial mantém sua vida. Nós somos essencialmente adoradores e nossa liturgia envolve uma reprodução do culto público que prestamos com a igreja.
Do mesmo jeito que você não precisa se preocupar na repetição do respirar, não se preocupe com a repetição da liturgia. E da mesma forma que você não se preocupa em desejar respirar para respirar, não se preocupe com a voluntariedade ao adorar. Pois o hábito produz o desejo ao coração, aprendemos muito mais por imitação do que simplesmente por proposições elaboradas. Deseje que aquilo que você faz encontre realidade em toda a sua vida, apontando para quem você ama acima de tudo e todos: Jesus Cristo.