Um dos princípios mais fundamentais do louvor é que nós participamos de algo muito maior que nós mesmos. Não existe louvor sem que o ponto de partida seja Deus. O louvor e a adoração são uma resposta a quem Ele é e o que Ele fez por nós. Portanto, a adoração começa no reconhecimento de quanto Deus é absolutamente soberano sobre tudo e todos. E tudo que existe só pode ser porque Ele assim o fez.
Por mais que vivamos numa era em que inúmeras pessoas tentarão nos dizer que nós somos o foco da atenção de Deus, o alvo de tudo que Ele fez, a mensagem da Bíblia diz o contrário. Como diz Paulo no encerramento do capítulo 11 sua carta aos Romanos:
“Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente.” (Rm 11.36)
O hino com o qual Paulo encerra esse capítulo é a base para a música que analisaremos hoje.
As primeiras três estrofes da música “Nunca foi sobre nós”, do Ministério Zoe, são praticamente uma citação direta dos versículos 33-36. Não é a primeira música composta em cima desses texto. Há bem mais tempo, o Diante do Trono lançou “A Ele a glória”, cuja letra é praticamente a mesma, uma vez que usam o mesmo texto bíblico como base. Inclusive, ela foi regravada recentemente pela Gabriela Rocha.
Nas estrofes a seguir, a música passa a fazer conclusões a partir do hino bíblico. De fato, toda a Palavra, tudo que foi criado, toda a existência jamais foi sobre nós. Tudo que Deus criou foi pensando nele mesmo (peço desculpas ao Djavan, mas não foi pensando nem em você, nem em mim).
A música segue afirmando a nossa dependência de Jesus, de Deus e a sua santidade. Mais a frente, ela inclui o hino que foi cantado pelo povo na entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, no Domingo de Ramos: “Hosana nas alturas”.
Quanto ao conteúdo e mensagem da música, não há o que dizer. É o texto bíblico cantado e conclusões lógicas corretas a partir dele.
Agora, temos que tratar de dois pontos que incomodarão alguns: a repetição e o uso de você.
Sobre o primeiro ponto, uma das maiores reclamações sobre isso é que a repetição é usada para empurrar ou até manipular a adoração, como se cantar a mesma coisa vez após vez fizesse com que pessoas adorassem mais. Se é isso que lhe incomoda, então basta não repetir. Cante as estrofes apenas uma ou duas vezes e está resolvido. Há quem abuse de repetição? Certamente. Mas se isso é o que mais lhe incomoda sobre a música, é só não repetir. Afinal, o conteúdo é bíblico.
Já o segundo ponto, esse certamente incomodará mais pessoas. E sobre ele, não vamos tratar a fundo agora, pois isso merece toda uma atenção própria, que desviará o foco dessa análise.
Há muitos que não aceitam chamar Jesus ou Deus de você. Confesso que eu mesmo não me sinto completamente à vontade com isso. Mas, não é algo contra o qual a Bíblia fala explicitamente. Mas, como falei, é um assunto que merece uma análise própria.
A pergunta que devemos fazer é se o uso deste termo em particular denuncia uma irreverência maior ou até algum desvio doutrinário da música. E esse certamente não é o caso aqui, como vimos acima. A mensagem da música é boa e vale a pena compor o nosso louvor. O você não desfaz isso.
Agora, se no seu contexto, você sabe que isso vai causar estranhamento na congregação, melhor evitar incluir esta música no repertório. Recomendo a música do Diante do Trono, que citei acima, pois fala praticamente a mesma coisa.
Quando nos reunimos no louvor, abrimos mão da nossa individualidade, nos submetemos ao corpo, participamos de algo maior que foi desenhado justamente para apontar para Aquele que é o centro de todas as coisas. De fato, nunca foi sobre nós. Sempre foi sobre Ele.