A música “Os anjos te louvam” do cantor Eli Soares foi lançada em 2011 no primeiro CD do artista. Ela foi regravada em 2015 numa participação com a banda Preto no Branco. No entanto, ficou mais conhecida e estourada na versão que ouvimos no CD ao vivo “Luz do mundo” de 2016.
Antes de olharmos a letra, deixa eu dizer o seguinte: que groove bom! Desde a primeira gravação, a música já trazia uma pegada muito boa com uma levada fantástica. Mas, certamente, a versão mais contagiante é a do ao vivo. Afinal, com uma banda que conta com Alexandre Fininho na bateria, Cacau Santos na guitarra e Junior Braguinha no baixo, não é de se surpreender.
A banda é de primeira linha e, com integrantes como esses, realmente não tinha como dar errado. Falando da música, não deixa nada a dever a qualquer outra banda do gênero, seja dentro ou fora da igreja.
Voltemos, agora, para a letra.
Essa é uma letra celebratória, de exaltação, um convite ao louvor. A letra afirma uma série de atributos de Deus: maravilhoso, Deus forte, príncipe da paz etc. Inclusive, em momento algum a música fala em primeira pessoa, um fato curioso uma vez que no mercado gospel, a tendência costuma ser mais auto centrada. Ela nos situa num coral entre os anjos, como diz o refrão que dá o título. Este é um Deus digno de louvor com uma série de atributos que merecem ser exaltados, e isso deve nos trazer tremenda alegria e prazer – que condiz com o som e tom geral da música.
Tem uma frase que até poderíamos encrencar que diz “Ele é sempre fiel e te dá vitória”. Em épocas de triunfalismo e prosperidade, temos medo de falar em vitória, por conta do abuso e mal uso do termo. Mas nessa música, não creio que haja uma ênfase incorreta em triunfalismo ou uma promessa absoluta de vitória em toda e qualquer instância. Afinal, apesar do sofrimento fazer parte da vida do cristão, a vitória também é algo que devemos celebrar: a vitória de Cristo sobre a morte na cruz, que nos é concedida pela graça e misericórdia dele.
Então, se considerarmos apenas a letra dessa música, não vejo problema algum em cantá-la na igreja. A sua mensagem é centrada em Deus, condiz com as Escrituras e creio que traz edificação ao apontar os nossos olhos ao Pai.
Por outro lado, há uma ressalva que vale ser feita. Temos que comentar um outro aspecto já citado: o groove. Sim, a alegria deve fazer parte do nosso culto e creio que devemos usar os recursos musicais e ritmos que expressam essa alegria. Mas é muito fácil errar a mão e acabar focando tanto na música que o louvor da congregação fica em segundo plano.
Creio que a referência dessa música para a maioria seja de fato a gravação ao vivo. E é interessante ouvir as outras versões dela para ver tudo que pode ser feito com a música. Mas, sendo a do ao vivo a mais conhecida e legal de ouvir (pelo menos para mim), é essa que muitos vão tentar reproduzir no culto de domingo.
A minha humilde sugestão sobre isso seria: melhor evitar.
Explico.
Talvez a sua igreja conte com músicos do naipe do Cacau Santos e do Braguinha, que são referências tanto dentro quanto fora da igreja. Talvez a sua banda dê conta de fazer aquela virada absurdamente quebrada do Fininho na segunda passagem do primeiro verso. E isso é admirável! (Como baterista, nunca conseguiria fazer aquilo. E confesso minha inveja de quem consegue.) Mas esse é um exemplo de uma referência musical tão complexa e elaborada que, por mais excelente que seja, pode roubar do momento do louvor.
Você pode ter a banda mais humilde e devota, sem ambição ou orgulho algum, que de fato evita fazer um show. Não é uma questão de querer aparecer. Só que a levada da gravação ao vivo foi feita para ser espetacular e pode acabar inibindo a congregação de cantar. Aliás, naquela virada que falei no parágrafo anterior, pense no quanto é difícil manter o tempo da linha melódica, especialmente para alguém que não toca um instrumento.
Portanto, creio que essa música possa ser tocada num culto, sim. Mas acho que ela não deva ser tocada igual à gravação ao vivo, pelo fato da música acabar sendo difícil de acompanhar e sobressair. Ela precisa ser adequada à realidade da congregação local.
Inclusive, se a sua igreja tem uma congregação com maior facilidade e cultura musical e de fato consegue louvar sem que a música iniba o canto congregacional, quebra tudo ao vivo para a glória de Deus! É muito bom que a congregação se alegre na presença de Deus.
Agora, considerando a realidade da maioria das igrejas, acho que vale buscar as referências das gravações anteriores, talvez reduzir um pouco o andamento e tocar um groove que todos possam acompanhar, que a igreja consiga cantar junto. Afinal, este é o fim de toda música a ser cantada da igreja: que o povo de Deus cante.
E se você achar que essa música não serve para a sua igreja, não há problema algum. Caso não se encaixe no louvor da sua igreja, é um baita som para se ouvir no carro, na academia e no dia a dia.