Repetir? Outra vez?
Muitos frequentadores de igrejas modernas tem sido insultados com a repetição na adoração congregacional.
A era da informação nos condiciona para novos conteúdos, ideias e dados. Porque reler o que já leu, ouvir o que já foi ouvido, quando novas informações estão disponíveis hoje como nunca antes?
Mas nós sabemos o que o nosso acesso, sem precedentes, à novidades está fazendo conosco? Todas as indicações são de que estamos sendo ameaçados de nos tornarmos não mais sábios ou maduros, e sim mais rasos. Passar os olhos numa página e entoar algumas palavras de uma canção não é a mesma coisa que experimentar a realidade dessas palavras em nossos corações. Nossos corações não se movem tão rapidamente como nossos olhos e bocas.
É o que torna a adoração congregacional um elixir para um número cada vez maior de pessoas doentes hoje.
Tome o Salmo 136 como uma luz intermitente vermelha do Divino alertando que nossa nova intolerância para repetição é fora de sintonia com aquilo que significa ser humano. O salmo tem 26 versos, e cada verso termina com
Porque a sua benignidade dura para sempre.
Ele relembra a bondade de Deus e sua supremacia, seu maravilhoso trabalho e sua maravilhosa criação, a sua obra de redenção pelo povo escravo e a provisão de uma rica terra.
Vinte e seis vezes o salmo repete este refrão – e nenhum deles é desperdiçado. Cada novo verso, um outro atributo ou o resgate de Deus é celebrado, e, em seguida, nossas almas são levadas mais fundo em seu firme e durável amor em cada repetição gloriosa.
O objetivo da música não é fazer da sua benignidade uma tradição solene, mas nos ajudar a sentir isso novamente em uma nova profundidade. A dança de cada novo verso, com cada retorno ao refrão, é projetado para suportar a verdade central sobre o amor resistente de Deus de uma forma mais profunda em nosso íntimo. O salmo não é um tratado sobre o inabalável e persistente amor de Deus, mas o que chamamos de meditação – menos linear e mais circular – trabalhada para ajudar a tratar a realidade de seu amor a partir de informações em nossa superfície mental para experiências em nossos corações.
Se você sair entediado (inalterado), você perdeu o foco. Mas se você sair profundamente aborrecido com Deus em sua alma (provou de novo a força e a doçura do se amor), você foi levado pelo Espírito Santo.
Deus criou os seres humanos para meditarem. E é, cada vez mais, uma arte perdida na nossa época. Nós fomos feitos para pensar profundamente sobre a sua verdade, e não apenas ser informado sobre ela; para refletir das profundezas, e não apenas passar para a próxima peça de informações.
Formas não-cristãs de meditação procuram esvaziar a mente e transcender especificidades concretas para o etéreo e experimentar alguma forma de iluminação sem sentido. Mas a meditação cristã preenche a mente com a verdade bíblica e mastiga sobre ela, buscando saborear cada mordida.
Ao contrário de uma simples leitura, ou mesmo leitura lenta, onde nossas mentes e olhos mantém o ritmo em algum movimento, a meditação nos desacelera, num caminho para baixo. Fazemos uma pausa e refletimos. Leitura nos mantém marchando de forma linear, ao passo que a meditação nos move para um padrão mais espiral, limitando a informação definida e buscando pressionar e aplicar a verdade aos nossos corações, para realmente experimentarmos a verdade e não apenas deixá-la correr nos meio de nossas mentes e em nosso caminho para a próxima coisa.
Um aspecto notável da adoração congregacional é que ela nos dá a oportunidade de meditar juntos. O auge de um bom sermão é tipicamente uma forma de meditação comunitária, liderada pelo pregador enquanto ele circula em torno de seu ponto principal e, verbalmente, amassa a bondade de Deus em nossos corações.
O centro dos nossos melhores louvores juntos, em música, é meditativo. Não é a descoberta e o fornecimento de uma estrofe obscura que liga nossos corações e nos chama para o céu, mas, retornando ao coro, que foi enriquecido com cada verso adicional. Os versos fornecem novas informações, mas o refrão que conhecemos tão bem insiste na verdade ainda mais profundamente em nossas almas. Os versos e refrão, juntos, ajudam-nos a conhecer a realidade ainda melhor, enquanto nós, coletivamente, digerimos essas verdades da mente em nossos corações. Eles nos ajudam a experimentar e sermos abalados pela verdade em nosso íntimo, não apenas a ensaiar informações sobre a superfície.
E só depois de ter tomado a verdade no coração, nós, organicamente, crescemos em ações externas e transformações vívidas. Em vez de contornar o coração, movendo-se da mente para as ações, a meditação recebe a verdade em nossas almas e nos transforma em nossa parte mais profunda, de modo que nossas ações não são mais caiadas de branco, mas expressões autênticas do movimento de nossas almas.
A repetição proposital na adoração congregacional nos capacita a sermos mudados não apenas como indivíduos, mas como um povo. Não são apenas as verdade que lemos, mas as verdades que cantamos, e cantamos muitas vezes, e as temos em nossos corações – que nos moldam para uma vida de adoração.
Então, talvez nesse fim de semana, você terá a oportunidade de experimentar a repetição comunitária de novo, e em vez de invejar o líder de louvor, você pode encontrar um novo caminho para apreciar a grandeza e o amor de Deus.
Publicado originalmente em Desiring God. Traduzido com permissão.
Tradução: Thiago Holanda. Revisão: Filipe Castelo Branco.