Há poucos dias, eu dirigia com minha família para casa de um casal de amigos. O caminho para essa casa era muito parecido com o caminho para IPCC e, por isso, sem que eu percebesse, liguei o “automático” e segui o caminho que tradicionalmente faço para igreja. Até que minha esposa me fez perceber que estávamos nos distanciando de nosso destino. Nossa memória pode nos pregar boas peças e, algumas vezes, precisamos revisar nosso GPS para sabermos se realmente estamos indo para o lugar certo.
De modo semelhante, estamos habituados com música em certos contextos. Quando pensamos numa apresentação musical, automaticamente esperamos um show com excelentes músicos e roupas chamativas. E acabamos por levar esse hábito ao culto a Deus. Não é à toa que muitas pessoas procuram igrejas que tenham músicas sendo executadas por grandes bandas em uma sequência que as permita “entrar no clima”, levando-as desde pulos e gritos até choros e contrição. As músicas são selecionadas pelo “ministro de louvor” de forma a representar bem esses sentimentos variados. Primeiro há uma música que permita a entrada na “atmosfera” musical, depois algumas mais animadas – afinal isso é um culto e não um velório, eles dizem – e por fim um cântico introspectivo que nos “prepare para a mensagem”.
Qual o problema com tudo isso? Você já tem a resposta no título: porque o culto não é um show! Os cânticos não estão na liturgia da mesma forma que estão em uma apresentação da sua banda favorita. A diferença está na natureza do culto. O serviço do culto é prestado pela igreja que foi chamada pelo próprio Deus para adorá-lo e que ele mesmo capacita para isso. Por isso dizemos que Deus é o objeto e sujeito do culto. A função da música no culto não é externar ou extravasar nossos sentimentos como se estivéssemos em um estádio de futebol, gritando pelo nosso time. Os cânticos e as orações são as reações da igreja às exortações da Palavra de Deus. Esse é o motivo de que toda igreja deve ser chamada de “ministro de louvor” e não apenas o líder da banda. Os músicos estão presentes no culto para, junto com toda igreja, oferecer a Deus cânticos que glorifiquem a Deus, portanto, são facilitadores da música e não popstars fazendo apresentações.
Igualmente ao caminho que trilhei enquanto mantinha o “piloto automático”, podemos seguir um destino errado quando não refletimos sobre o culto a Deus. Lembrar do porquê oramos e cantamos vai nos ajudar a ajustar também nossos sentimentos. Esse ajuste nos conscientizará que não estamos assistindo a uma apresentação e respondendo aos apelos do vocalista, mas estamos apresentando nossa vida a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável a ele (Rm 12.1), respondendo às exortações da Palavra de Deus que conduzirá nossa razão e emoção ao centro do culto: Cristo. Portanto, não espere uma sequência de músicas para “entrar no clima”, pois sua palavra já anuncia: “venham, cantemos ao Senhor com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação”. (Sl 95.1).