Domingos atrás tive o privilégio de pregar na minha igreja natal, Covenant Life. Nós estamos no meio de uma série sobre 1 Coríntios e eu falei de 1Co 12.12-31. Paulo tem respondido as perguntas dos coríntios sobre quem é “realmente” espiritual. Eles estavam sob a suposição errada de que certos dons, como línguas, eram um sinal da verdadeira espiritualidade. Sua atitude era dividir a igreja – o oposto exato da unidade que o Espírito quer trazer. Paulo pressiona seu principal argumento usando a analogia do corpo humano.
Ao me preparar para a mensagem, fiz uma pequena pesquisa sobre o corpo e aprendi alguns fatos surpreendentes. Nosso fígado desempenha mais de 500 funções. Eu não tenho certeza se posso citar uma delas. Nossos ouvidos podem identificar centenas de milhares de sons diferentes. O nosso coração bate cerca de 100.000 vezes por dia sem sequer pensarmos nisso. O dedo grande do pé é na verdade uma das partes mais importantes do nosso corpo, equilibrando o nosso esqueleto e permitindo-nos avançar. Sem ele, simplesmente cairíamos.
Muitas vezes, as partes do nosso corpo que menos pensamos estão entre as mais importantes. Paulo provavelmente não tinha todos esses detalhes, mas ele obviamente tinha isso em mente quando escreveu essa passagem. Ao invés de exaltar nossos dons ou minimizá-los, Deus quer que vejamos que nossa unidade em Cristo é fortalecida e demonstrada quando apreciamos os diferentes dons de Deus.
Essa verdade definitivamente se aplica aos músicos, que muitas vezes comparam seus dons com aqueles que eles veem nos outros, e acabam em auto-piedade ou auto-exaltação. Paulo aborda ambas as atitudes.
Ele diz: “Se o pé disser: “Porque não sou mão, não pertenço ao corpo”, nem por isso deixa de fazer parte do corpo.” (1Co 12.15). É fácil ver por que um pé pode invejar uma mão. Um pé é sempre pisado, fica sujo, quase sempre coberto, e geralmente fede. As mãos, por outro lado (sem trocadilho), estão envolvidas em tudo o que é importante. Eles podem construir coisas, tocar instrumentos, pegar uma bola e confortar um amigo. Quando alguém aparece para cumprimentá-lo, você não estende seu pé. Você estica sua mão. Também é fácil ver por que alguém que tem um “dom de mão” pode começar a pensar que seus dons são os mais especiais, necessários e dignos de Deus.
Mas se a igreja é o corpo de Cristo, nós precisamos de todas as partes, e nem todas vão parecer iguais. Cada parte é necessária para os outros, e cada parte é dependente dos outros. Sem nossos pés, nossas mãos não iriam muito longe. Mas quem quer um corpo que seja apenas pés?
Ao longo dos anos, fiz entrevistas musicais e encontrei alguns “olhos” que não viam a necessidade de “mãos” (1Co 12.21). Mas, mais frequentemente, encontrei pés que desejavam que fossem mãos, e ouvidos que desejavam que fossem olhos (1Co 12.16). Vocalistas de coral que queriam ser solistas. Guitarristas de pequenos grupos que queriam ser instrumentistas de domingo de manhã. Músicos não-rítmicos que queriam ser bateristas. Não-músicos que queriam fazer parte da equipe.
Os líderes podem ter dificuldade em dizer a alguém que não podem servir da maneira que querem servir. Mas não devemos hesitar em ajudar alguém a saber em que parte do corpo ela realmente faz parte. Se alguém não é uma mão ou um olho, Deus se certificou de que é outra parte do corpo. O Espírito concede dons a cada um como ele quer (1Co 12.21).
Isso não significa que as pessoas não possam crescer em seus dons, ou que não possam servir em uma posição até que alguém mais talentoso apareça. Mas como líder quero fazer tudo o que puder para ajudar as pessoas a identificarem onde Deus as tem dado dons para que todo o corpo seja construído e melhor servido.
Também desejo me contentar em ser a parte do corpo que Deus me fez, e reconhecer minha necessidade dos outros dons. Se sou mais dotado para cantar do que para pregar, eu não deveria falar por cinco minutos entre cada música. Se eu não tiver um dom de administração, devo pedir a alguém para ajudar a trazer a organização para a equipe. Se não sou o músico mais criativo, deveria ter certeza de que há espaço para os outros contribuírem com suas ideias. Mesmo que eu seja o músico mais criativo, ainda preciso dos dons que Deus deu aos outros.
Quando as partes de um corpo não funcionam juntas, isso gera caos, confusão e falta de fruto. Mas quando cada um de nós está fazendo o que é dotado para fazer, com a graça que Deus nos deu, toda a igreja se beneficia, nós somos mais felizes, e Deus é glorificado. Então, se você ou alguém que você conhece sente que seu dom é ser o dedo grande do pé, lembre-se de que você pode estar evitando que o corpo inteiro caia.
Original: When Feet Want to Be Hands.
Tradução: Augusto Magalhães.
Revisão: Filipe Castelo Branco.