O mundo dos equipamentos musicais é um buraco sem fundo.
Tenho certeza que todo músico já se pegou pensando: “Se um dia eu tivesse um instrumento daquela marca, aí sim…”
E, de fato, quando a gente fala de empresas como Nord, Taylor, DW ou Music Man, estamos tratando de instrumentos de altíssima qualidade, usados pelos melhores músicos do mundo.
Nesse sentido, o Youtube acaba servindo de pedra de tropeço para muitos de nós. A gente assiste um vídeo do Mateus Asato ou Vinnie Collaiuta e pensa que para poder tirar um verdadeiro som de qualidade, fazer um louvor muito bom mesmo a gente precisa de instrumentos à altura dos que eles usam.
Sim, o equipamento deles é de nível indiscutível e o talento musical idem. E sim, depois de gastar horas enchendo os olhos e ouvidos com esse tipo de material, a gente chega na igreja e vê aquele tecladinho Casio ou batera RMV cansada e a tendência é menosprezar.
Nunca esquecerei o dia em que estávamos comprando o equipamento de som para uma nova igreja e o jogo de pratos que veio para a bateria era uma série de entrada bem simples, a B8 da Sabian. Eu entendia bem pouco do assunto e ouvi um amigo dizer: “Tinha um cara vendendo um jogo de pratos Série Z da Zildjian, mas optamos por esse outro”.
Logo pensei: “Como assim você deixou de comprar série Z da Zildjian pra comprar esse? É Zildjian!”
Para quem não é baterista, só para entender, essa série de pratos que nem existe mais era usada por bateristas como Lars Ulrich, do Metallica. Imagine só o peso e estardalhaço de um equipamento desses no culto de domingo. A qualidade era de fato boa, mas não tinha nada a ver com o contexto do culto.
É legal ter instrumentos top de linha como referência para nós músicos, pois nos dá um alvo para almejar, tanto financeiramente quanto musicalmente. Afinal, não adianta nada ter um Martin D-28 e mal saber tocar quatro acordes. Você precisa estudar muito para poder tirar tudo que um instrumento desses tem para oferecer.
Daí o pastor da igreja chega para você e diz: “Precisamos comprar um violão novo para a igreja. Qual você recomenda?”
Os olhos chegam a brilhar e, já que não é você que tem que pagar, pensa logo naquele Taylor que viu na vitrine da loja. Uma semana depois, chega o pastor com o violão novo:
“Meu querido, eu vi aquele tal de Taylor que você falou, mas o moço da loja falou que esse Tagima aqui é um custo beneficio bem legal para nós. E é bem mais barato, também.”
O coração chega murcha. No ensaio de domingo, o sol maior mal sai de tanta tristeza. Você fica ali olhando o violão Tagima pensando: “Ah se fosse Taylor…”
O som que Deus mais quer ouvir no culto de domingo é a voz cansada da Dona Maria, que está lá na igreja apesar da sua idade avançada; do seu João, que trabalhou a semana inteira e ainda assim chegou cedo pro culto. O fato de que há instrumentos para acompanhar o canto congregacional serve de adorno para o louvor da congregação. E isso é lindo demais!
O nosso louvor não é medido pela qualidade da execução ou pelo nível dos instrumentos. A realidade da maioria das igrejas brasileiras nunca permitirá investir em instrumentos de nível profissional, e ainda assim, são capazes de produzir o mais belo louvor que sobe como incenso agradável a Deus.
O melhor instrumento que você pode ter na sua igreja é aquele que é tocado com esmero, dedicação e devoção por pessoas cujo coração deseja prestar culto a Deus. Seja Fodera ou Condor, Pearl ou Pinguim, Martin ou Giannini, Fender ou PHX, Casio ou Korg, tanto faz, de verdade. A qualidade do nosso louvor, da nossa música depende do quanto o nosso coração está ali, e não no nível dos instrumentos.
Então, querido irmão músico, da próxima vez que você chegar na igreja para tocar, não fique pensando em tudo que você não tem à sua disposição. Não é isso que vai agradar a Deus. Não desmereça aquilo que você tem em mãos por um sonho de consumo que você talvez nunca consiga ter.
O melhor instrumento para se tocar na igreja é aquele que está nas mãos de um servo piedoso, cujo coração se alegra em poder prestar um culto agradável a Deus junto com a igreja.